Trechos da matéria:Rumo à interdisciplinaridade publicado no Jornal da USP 995(Autor Paulo Hebmuller)
Na era das conexões virtuais ditas “sociais”, criar espaços “físicos” para que seres humanos se encontrem e troquem experiências não é uma ideia de pouca importância. No caso das universidades, não são poucas as que têm investido na criação de cafeterias que propiciam a interação de professores e estudantes de diferentes áreas. Trata-se inclusive de uma formulação acadêmica defendida pelo espanhol Jorge Wagensberg em seu livro O gozo intelectual (Editora da Unicamp, 2009): a universidade pode ser mudada fomentando-se o conceito de cafeteria. Nela se dão conversas nas quais surgem novos problemas e propostas de estudos interdisciplinares.
De comum acordo, o diagnóstico de que o modelo vigente nas instituições não dá conta dos desafios do cenário atual. “A complexidade da sociedade contemporânea exige repensar as modalidades cristalizadas de compreensão do mundo. A produção de conhecimento, do saber e da cultura mudou”
“A organização tradicional da universidade está esgotada. É preciso assumir novos riscos”Há uma crise profunda do ensino superior na Europa”.Em diferentes instituições, no Brasil e no mundo, novos formatos têm sido criados na tentativa de superar entraves
“Os alunos são visuais, pragmáticos e imediatistas”.“Nossos jovens são muito criativos e entusiasmados, mas por coisas interessantes. Se o professor apaga a luz e der aquela aula com power point, não há quem aguente. Eles vão se conectar nos seus smartphones ou iPads com outros que falem a linguagem deles.Os jovens vão se conectar ao nosso ambiente se este for estimulante.”
Entre as dificuldades para trabalhar interdisciplinarmente, está exatamente o fato de que os docentes foram formados de maneira disciplinar e não estão acostumados a atuar em conjunto com outras áreas. A falta de integração entre cursos pode levar a que um aluno de graduação passe o curso inteiro indo a um só edifício. “Na pós, é ainda pior: pode frequentar apenas um laboratório e nem conhecer o chefe do departamento ao qual aquela instalação pertence”,
A estrutura departamental é apontada como um dos fatores a emperrar o maior intercâmbio, seja de docentes, alunos ou matérias – embora, para outros, os departamentos não possam ser apontados como “vilões”. A demarcação de “territórios” pode começar na própria definição das especialidades e se aprofundar nos aspectos administrativos, na fragmentação do ensino e no prejuízo à pesquisa. “O ambiente acadêmico é refratário a novas experiências, encastelado nas especialidades e imerso em cultura pesadamente disciplinar.
Trabalhar interdisciplinarmente não significa apenas colocar no mesmo espaço professores ou pesquisadores de áreas distintas. A interdisciplinaridade é a reunião de saberes da experiência, saberes técnicos e saberes teóricos interagindo sem hierarquização”, “A interdisciplinaridade não é a sobreposição de ambientes: é a integração dos ambientes para geração de um conhecimento novo”.A a formação de recursos humanos e a geração de conhecimento “realmente novo” são sempre melhores em grupos interdisciplinares.
Cabe às instituições induzir à criação desses grupos –. “Acredito que um dos papéis fundamentais das agências de fomento é estimular a interdisciplinaridade”,
Para dialogar com pesquisadores de outras áreas, é necessário “ter grande base epistemológica em sua própria disciplina.Para fazer a transgressão das fronteiras disciplinares é preciso saber por que minha disciplina não responde ao que estou procurando e deixar que ela seja ‘transgredida.
Exemplos dessa tese foram apresentados.Um exemplo foi a experiência de um trabalho que reuniu universidades de diversos países para pesquisar fatores que levam à obesidade, grande problema nas sociedades ocidentais, e ajudar na proposição de políticas públicas de saúde que enfoquem a questão. A obesidade, afinal, leva ao aumento de doenças como hipertensão e diabete, com impacto nos orçamentos públicos.
Essas disciplinas são ignoradas pela natureza e só existem na divisão feita pela estrutura universitária. “A integração é necessária e a universidade ainda não tem condições de dar esse suporte.
É preciso definir políticas públicas para a massa de jovens que entra no ensino médio e não tem perspectiva de ingressar num curso superior de qualidade. “A universidade não pode virar as costas para o ensino básico e, principalmente, público”
Veja o video:
http://www.youtube.com/watch?v=rK9Ue_ln4Ls&list=UUG8uu5eRqeSvLxmGflmJdMw&index=1
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