DEUS FACE À CIÊNCIA
Claude Allègre
A 22 de Junho de 1633, Galileu Galilei, de 69 anos de idade, vestido com o hábito branco dos penitentes, entra na grande sala do Convento de Minerva, em Roma. Vai comparecer, a pedido expresso e urgente do papa Urbano VIII, diante do tribunal inquisitorial da Congregação do Santo Ofício, composto por dez cardeais designados para o efeito.
Ei-lo agora diante do tribunal da Inquisição. Ajoelhado, escuta, tenso, pálido, silencioso, a espantosa declaração, aquela declaração supostamente escrita por ele, mas de que, na realidade, toma conhecimento pela primeira vez enquanto é lida por outro:
Eu,
Galileu Galilei, filho do falecido Vincenzo Galilei, de Florença, de 69 anos de
idade, comparecendo em pessoa perante este tribunal, ajoelhado diante de vós,
mui eminentes e reverendíssimos cardeais, grandes inquisidores de toda a
cristandade contra a perversidade herética, os olhos postos sobre os mui Santos
Evangelhos, que toco com as minhas próprias mãos:
Juro
que sempre acreditei, que acredito neste momento e que, com a graça de Deus,
continuarei a acreditar no futuro em tudo quanto a Santa Igreja católica,
apostólica e romana tem por verdadeiro, prega e ensina.
Mas,
em virtude de o Santo Ofício me ter notificado de que não acredita na falsa
opinião de que o Sol está no centro do mundo e é imóvel e de que a Terra não é
o centro do mundo e se move e de que não mantém, nem defende, nem ensina, quer
oralmente, quer por escrito, esta falsa doutrina; em virtude de ter sido
notificado de que a dita doutrina era contrária às Sagradas Escrituras; em
virtude de ter escrito e ter mandado imprimir um livro no qual exponho esta
doutrina condenada, apresentando em seu favor uma argumentação muito
convincente, sem apontar qualquer solução definitiva; tornei-me por este facto
fortemente suspeito de heresia, isto é, de ter mantido e acreditado que o Sol
está no centro do mundo e é imóvel e que a Terra não está no centro e se move.
Juro
também e prometo cumprir e observar estritamente as penitências que me foram ou
vierem a ser-me impostas por este Santo Ofício; e, se desobedecer, que o não
queira Deus, a uma das minhas promessas e juras, submeto-me a todas as penas e
castigos que são impostos e promulgados pelos sagrados cânones e pelas outras
constituições gerais e particulares contra semelhantes delinquentes. Com a
ajuda de Deus e dos Santos Evangelhos, que toco com as minhas mãos.
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