A tradição da USP iniciou-se há quase 200 anos, se considerarmos a fundação das escolas preexistentes, como a Faculdade de Direito, a Escola Politécnica e a Faculdade de Medicina, ou 80 anos, se levarmos em conta a fundação da Universidade. Assim, graças à sua juventude, se comparada às instituições de ensino superior europeias, por exemplo, a USP possui grande potencialidade, cujo desabrochar necessita ser incentivado.
A vocação internacional e a internacionalização permeiam a história da Universidade. Exemplificativamente, a Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, a Esalq, nasceu da experiência internacional do agrônomo e fazendeiro Luiz Vicente de Souza Queiroz. Nascido em 1849, Queiroz formou-se em Agronomia na França e na Suíça. De volta ao Brasil, deparou-se com o atraso das práticas agrícolas nacionais e entendeu ser de fundamental importância a divulgação das mais avançadas técnicas e práticas agrícolas à população, dando início à concepção da Esalq.
Do mesmo modo, a então Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras (FFCL) teve grande impulso inicial, quando de sua criação, graças à vinda das missões estrangeiras. Em 1934, na recém-criada Universidade, dezenas de professores estrangeiros – franceses, italianos e alemães, em sua maioria – foram contratados para implementar estudos de ciências básicas e humanidades, nos quais o País ainda não tinha tradição.
A missão francesa encarregou-se, principalmente, das ciências humanas – filosofia, história, geografia, antropologia e sociologia. Aos alemães coube a cátedra de química, enquanto aos italianos, as ciências exatas – física e matemática. A esse corpo docente internacional incumbiu-se a responsabilidade de formar os primeiros pesquisadores brasileiros, transmitindo-lhes os fundamentos do rigor científico sobre o qual se erige todo o conhecimento. O registro que consta no brasão da Universidade, Scientia vinces, “Vencerás pela ciência”, expressa este que pode ser considerado um de seus principais pilares.
Além disso, as missões estrangeiras deflagraram uma efervescência cultural ímpar, que transformaria a USP em uma das mais importantes universidades do Brasil e da América Latina.
O movimento de internacionalização na USP, já com esse nome, data de pouco mais de uma década, tendo aumentado significativamente nos três últimos anos. O resultado desse processo pode ser traduzido pela alta visibilidade, nacional e internacional, bem como índices inéditos conquistados nos mais variados rankings internacionais de universidades. No mais recente deles, o 2013 World Reputation Ranking, elaborado pelo Times Higher Education, a USP foi a única universidade brasileira e latino-americana a figurar entre as cem melhores do mundo. No Performance Ranking of Scientific Papers for World Universities 2012, elaborado pelo National Taiwan University Ranking (NTU Ranking), a USP subiu 25 posições em relação a 2011, passando da 78ª para a 53ª posição em 2012.
Para aproveitar tal visibilidade e fazer com que a USP alcance um novo patamar de internacionalização, tornou-se necessário que a Universidade se localizasse fisicamente em regiões estratégicas do globo, que servissem para alavancar sua participação e parcerias efetivas com universidades de ponta em todo o mundo. Isso se dará, essencialmente, pelo incremento de sua participação em pesquisas internacionais, de forma institucional e não somente por ligações pessoais, como ocorre na maioria dos casos; no ensino, com o fomento a ações voltadas ao duplo diploma em graduação e à cotutela em pós-graduação; e na extensão de serviços à comunidade, além da divulgação da imagem USP em todos os centros mundiais relevantes.
Os núcleos internacionais, instalados nas cidades de São Paulo, Boston, Londres e Cingapura, são representações diplomáticas que dinamizarão ações em três instâncias: as existentes há tempos, como, por exemplo, os convênios internacionais (atualmente, são mais de 690 convênios vigentes) e cátedras internacionais; as ações recentes, como o Programa de Bolsas de Intercâmbio Internacional para Alunos de Graduação; e as novas ações, como o programa de bolsas para professores visitantes internacionais, que poderão atuar nas unidades e órgãos, e o Programa de Incentivo e Apoio à Capacitação dos Servidores Técnicos e Administrativos da USP no Exterior.
Ademais dos benefícios que derivarão de todas essas ações, o Programa USP Internacional será um laboratório prático das atividades internacionais da Universidade, que possibilitará, com alta margem de certeza, a formulação de programa de internacionalização para a USP nos próximos anos.
O que se pretende com o novo patamar de internacionalização é fazer com que nossa universidade possa respirar uma atmosfera verdadeiramente multicultural e internacional, que favoreça a compreensão, a tolerância e a interdisciplinaridade. Por outro lado, é necessário que a USP consiga participar do seleto grupo de universidades mundiais, aptas a desenhar a universidade do século 21. Em poucos anos, o desenho da universidade mudará mais do que cambiou desde o século 12, quando as primeiras instituições de ensino superior surgiram na Europa.
João Grandino Rodas é reitor da USP
Fonte Jornal da USP(15 de Maio de 2013)
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