Com o auxílio de um modelo matemático, o
professor da Faculdade de Educação Física (FEF) Sérgio Augusto Cunha
criou uma análise de visualização que possibilita enxergar facilmente a
evolução do salto dos goleiros de futebol com o uso de uma plataforma de
força e do computador. Segundo o docente, no futebol, o goleiro lida
com características muito específicas para o seu preparo físico, técnico
e tático. E a movimentação, para executar a defesa, passa pelas fases
de expectativa, primeiro passo e salto. O seu projeto conseguiu otimizar
e proporcionar desempenho máximo no salto. O trabalho é fruto do seu
estudo de pós-doutorado, realizado na Universidade de Calgary, Canadá,
que possui um dos melhores laboratórios de biomecânica do mundo. Esse
conhecimento já está disponível para ser praticado na Copa de 2014 e nas
Olimpíadas de 2016, ambas no Brasil. Os testes já começam ser feitos no
Laboratório de Instrumentação Biomecânica da Unicamp, e Sérgio Cunha
aguarda a manifestação de times ou seleções interessados em avançar nas
estratégias de defesa.
Os
experimentos foram feitos com seis voluntários amadores (quatro
goleiros e dois não goleiros), cada qual executando nove saltos. Foram
avaliados ao todo 54. Ele revela que o foco de seu trabalho foi
unicamente a potência do salto, visto se tratar de uma variável de
relevância para os jogadores de futebol e de outras modalidades. “O
próximo passo será verificar a atuação dos goleiros profissionais”,
avisa Sérgio Cunha, que pertence ao Departamento de Ciências do Esporte.
Resultados
preliminares apontaram que os goleiros têm um aproveitamento muito
maior de energia na hora do contato com o solo do que os não goleiros.
Quando fazem o impulso, por exemplo, freiam muito menos o movimento,
graças à técnica.
MATEMÁTICA
O
modelo matemático usado pelo professor da FEF, que criou gosto pelas
ciências exatas no curso de Engenharia de Alimentos, envolve uma rotina
descrita no Matlab, um software que faz cálculos com matrizes e
relaciona conceitos básicos como determinar valor de máximo da curva e
de área sobre a curva.
No caso
avaliado, estudaram-se o impulso e a força-pico, particularidades do
salto do goleiro, procurando aumentá-los para melhorar esse movimento.
Isso se correlaciona com a potência do corpo do goleiro que, ao ter sua
força aferida, fornece uma ideia do que está acontecendo com a potência.
Na
prática, alguns marcadores passivos são fixados nos goleiros para
calcular os ângulos do quadril, joelho e tornozelo. Uma vez eles
determinados, os participantes fazem o salto saindo da posição de
expectativa e executando o primeiro passo. A intenção é alcançar uma
bola lançada para o lado direito do mesmo modo que eles têm de fazer um
salto com a máxima potência e aterrissar em um colchão.
A
princípio, o pesquisador planejava analisar a potência dos membros
inferiores e descobrir as potências articulares, projeto que de fato
está em andamento. “Descobrimos uma forma mais simples e objetiva de
verificar esses dados usando a plataforma de força, que inclusive já
existe comercialmente.”
Uma vantagem
da plataforma, onde ocorrem os saltos, é que ela poderá ser levada ao
campo de treinamento para que o técnico e os atletas confiram o
desempenho em termos da análise da curva de força no tempo e da área
sobre essa curva. De acordo com o docente, poucos times de futebol no
Brasil dispõem de uma.
Mediante
análise exploratória, o professor notou que essas variáveis exemplificam
bem a situação pretendida e otimizam o processo buscado em termos de
potência, mesmo analisando só a curva de força.
Sérgio
Cunha conta que, quando firmado o projeto com a Universidade de
Calgary, em particular com o renomado biomecânico Walter Herzog, a ideia
era ajudar algum goleiro de uma seleção ou de um grande clube a fazer
uma defesa espetacular – numa cobrança de pênalti ou de falta – pela
otimização dessa potência.
CABECEIO
No
dia a dia, fica inviável levar os goleiros ao laboratório, constata o
docente, porque lá eles são colocados em marcadores que requerem
constante reposicionamento, além de os testes serem bastante demorados.
O
Laboratório de Instrumentação Biomecânica, que em abril completou 25
anos, comenta o pesquisador, sempre procurou conduzir o projeto para uma
experiência no mundo real. Eis a razão de querer introduzir a
plataforma nos jogos e treinos. “Faremos agora análises de saltos
utilizando goleiros brasileiros”, comenta o responsável pelo estudo, que
desta vez trabalhará com goleiros profissionais. Em breve, um novo
estudo deve abordar o cabeceio no futebol, feito por um orientando do
docente, a fim de entender como treinar a melhora da potência dos
membros inferiores.
Na Copa de 70, no
gol contra a Inglaterra, relembra o docente, Pelé subiu mais que o
zagueiro, que era muito mais alto. “Essa é uma vantagem no desempenho do
atleta e, em muitos casos, ajuda a evitar lesões na cabeça, visto que,
se ele subir mais que o oponente, nunca acertará cabeça com cabeça.”
O
desenvolvimento da potência do salto para o cabeceio têm sido de suma
importância no jogo, podendo ser fatores até de desestabilização do
adversário. O Bayern de Munique, um dos times mais festejados desta
época, usa muito o cabeceio, que tem sido um fundamento decisivo no
futebol.
No futebol feminino então,
exige-se uma demanda maior pela potência de salto, pois a estatura das
jogadoras é menor. Esse trabalho também virá nessa direção, “sempre no
sentido de ajudar técnicos, preparadores físicos e atletas na melhora
das condições de preparo”, expõe o professor.
Por
enquanto, os pesquisas no Brasil analisam a força de reação do solo e,
em Calgary, a determinação das potências em cada uma das articulações,
empregando softwares de simulação. Sérgio Cunha ainda está aprimorando
com o professor Ricardo Torres, do Instituto de Computação (IC) da
Unicamp, a quantificação dos padrões das curvas e planeja retornar ao
Canadá em 2015, onde deve acompanhar o campeonato mundial feminino de
futebol e a Olimpíada de Toronto.
ROBÔ
Na
mesma linha de treinamento para goleiros, dois alunos de Sérgio Cunha o
procuraram demonstrando interesse em desenvolver um robô que chuta a
bola para o goleiro e que faz as vezes de um cobrador de faltas. A
iniciativa será desenvolvida em parceria com o professor Paulo Roberto
Pereira Santiago, da USP-Ribeirão Preto, seu ex-aluno de doutorado.
Esse
robô será similar ao que tem sido adotado nas aulas de tênis, porém
para o treino do goleiro. Atua como um lançador de bolas capaz de
repetir os lances com a mesma precisão, velocidade e direção. Tanto a
plataforma de força como o robô são ferramentais que auxiliam
grandemente o salto dos atletas, um trunfo para os brasileiros que se
dedicam à evolução do esporte no país.
O
incremento será fundamental para os goleiros, pois o treinador
profissional não consegue chutar a bola exatamente no mesmo lugar.
“Assim, conseguiremos formar um padrão, do ponto de vista científico,
para analisar essas curvas, uma vez que a precisão do posicionamento da
bola e a velocidade são imprescindíveis”, assinala o estudioso.
PRÉ-REQUISITOS
Sob
o aspecto biomecânico, ensina Sérgio Cunha, é aconselhável que os
goleiros atuais sejam mais altos. Ele fez um levantamento na última Copa
do Mundo, constatando que os goleiros não chegavam à média de 1,90
metro. O ideal seria ter algo próximo disso.
Por
outro lado, mais importante que a altura, considera, é que os goleiros
tenham uma boa potência dos membros inferiores, por causa dos saltos,
nas situações em que devem alcançar a bola. Afinal, o gol é muito
grande: mede 7,32 m x 2,44 m. Por isso, o goleiro é o jogador que mais
treina na equipe, e treina também sozinho. “Então é preciso alcançar a
bola e ainda atentar para o jogador de linha, que está sempre tentando
chutar a bola distante do goleiro e com a máxima velocidade”, descreve
ele.
São vários os tipos de saltos.
Pode-se pensá-los a partir de uma cobrança de pênalti ou de uma cobrança
de falta onde normalmente, após a bola ter sua trajetória definida, ele
tem que iniciar esse salto, que demanda um longo alcance. Então a
potência de membros inferiores é inestimável.
O
docente aponta como goleiros modelares Leão, Taffarel, Zetti e Carlos
(aposentados), Dida (Grêmio), Rogério Ceni (São Paulo), Marcos
(ex-Palmeiras), Cássio (Corinthians) e Júlio César (Seleção). Taffarel
foi, recorda ele, o primeiro goleiro da seleção brasileira a jogar na
Europa, abrindo um mercado atraente e reconhecido para outros que vieram
a seguir. Recentemente, passou a comandar o time do Galatasaray,
Turquia.
Apesar de Rogério Ceni e
Marcos não serem tão altos, isso não se constituiu para eles um
empecilho, acredita o docente, “posto que o posicionamento desses
jogadores foi peça-chave para desenvolver uma liderança dentro de campo;
por isso ambos entraram para a história”, opina.
Publicação
Pós-doutorado: “Mathematical model to optimize ‘goalkee-pers’ jumping”
Autor: Sérgio Augusto Cunha
Financiamento: Fapesp
Veja o video no link abaixo:
http://www.youtube.com/watch?v=_DcmNKIjAH8
Pós-doutorado: “Mathematical model to optimize ‘goalkee-pers’ jumping”
Autor: Sérgio Augusto Cunha
Financiamento: Fapesp
Veja o video no link abaixo:
http://www.youtube.com/watch?v=_DcmNKIjAH8
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