Garoto de 16 anos cursa ensino médio e mestrado em matemática.Daniel Rocha pode pegar diploma só depois de concluir graduação.Filho de professor, jovem mora no Rio de Janeiro e estuda no Impa.Veja a matéria no link abaixo:
http://g1.globo.com/educacao/noticia/2013/07/garoto-de-16-anos-cursa-ensino-medio-e-mestrado-em-matematica.html
Favoráveis ou contrários à realização da Copa das Confederações, temos
todos assistido maravilhados a performance do Neymar e também de outros
jogadores talentosos na seleção brasileira. Maravilhados e um pouco enciumados,
pelo menos a parte da população do sexo masculino. Por mais satisfeitos com a
vida que estejamos, temos uma justificada inveja da genialidade dele no campo.
E ninguém pode argumentar que não está no lugar dele por falta de oportunidade.
O segredo do sucesso do Brasil no futebol está talvez num dos mais eficientes
sistemas de caça a talentos do mundo. Todos nós que não seguimos a carreira
futebolística só podemos atribuir isso a um único fator: falta de talento.
Jamais falta de oportunidade. Qualquer menino (hoje em dia também menina)
minimamente talentoso é logo reconhecido pelo sistema e recrutado para
aprimorar sua habilidade através de treinamento adequado.
Quando minhas filhas ainda estavam em idade escolar
nós passávamos todo dia de carro por uma escola pública que ficava a 3 quadras
de onde morávamos, a caminho da escola particular onde elas estudavam. Eu via
as crianças chegando a pé de todos os lados, com um colorido muito mais
vibrante do que elas poderiam ter acesso na sua escola, que era frequentada por
filhos de profissionais de nível universitário e professores. Famílias não
muito diversas da minha. Eu me perguntava por que elas precisavam frequentar
uma escola (bem) paga, muito mais longe e menos diversa.
Estive recentemente em Londres e um dos pontos altos
da programação para mim foi a visita à Stockwell Primary School, uma escola pública em um bairro pobre londrino. No
almoço (excelente, com frutas e sorvete na sobremesa) adorei conversar com
Chanel, menininha linda de uns 8 anos, filha de imigrantes jamaicanos que
achava que falamos espanhol no Brasil. Algumas coisas me chamaram a atenção já
na chegada: a absoluta disciplina das crianças, que se deslocam dentro da
escola sempre em grupo e em filas organizadas, o carinho e respeito com que
tratam os professores, o estúdio para atividades musicais. Depois do almoço
fomos brindados por um grupo de uns 15 instrumentistas e cantores interpretando
Billy Jean com o professor na bateria num arranjo incluindo diálogos entre
trompetes e flautas-doces. Havia também um espaço para atividades
artísticas/lúdicas onde vários grupos trabalhavam ao mesmo tempo lado a lado.
Conversando com dirigentes aprendemos fatos
surpreendentes: naquela escola há crianças que falam em casa uma de 37 línguas
diferentes. Seguem religiões diferentes (os véus islâmicos em meninas de 10
anos não deixam de chamar a atenção), têm cores diferentes (foi difícil
convencer uma filha de chineses que minha colega brasileira de origem japonesa
era brasileira), caras diferentes, poderes aquisitivos diferentes e recebem a
mesma educação de qualidade. Não existe o conceito de reprovação: apesar de a
relação entre professores e estudantes ser claramente de poder nenhum estudante
vive sob a ameaça de não continuar seus estudos com seu grupo de amigos e colegas
no ano seguinte porque falhou em algum teste ou porque algum professor assim
decidiu.
Se no meio dessas crianças estiver alguém talentoso
para a ciência como o Neymar é para o futebol não tenho a menor dúvida que ele
ou ela terá todas as oportunidades que precisa para ser educado adequadamente e
seguir uma carreira científica. Os demais terão tido o privilégio de terem sido
educados em um ambiente de diversidade onde terão aprendido cidadania através
do afeto e da convivência com pessoas muito diferentes do que encontram em casa
ou entre seu grupo social imediato.
Estamos errando historicamente no Brasil por não
darmos a devida atenção à educação desde os primeiros anos de vida e por
acharmos que mantendo um apartheid educacional temos alguma chance de avançar como
nação. Além do óbvio contraste na infraestrutura, a principal razão que me
levou a investir uma parte importante do que ganho na educação privada das
minhas filhas foi o preparo e atitude dos professores. Sem pagar salários competitivos
e prestigiar os bons profissionais é difícil atrair professores de qualidade.
Na Coréia do Sul o salário inicial de um professor primário é maior que o de um
professor universitário. Adivinhe se lá licenciaturas são carreiras
concorridas. Nos processos seletivos das universidades brasileiras estão entre
os cursos menos concorridos.
Ao contrário dos países latinos, na Inglaterra as escolas primárias públicas são autônomas para atrair os melhores professores (como fazem as particulares por aqui). Como consequência eles têm um dos melhores e mais inclusivos sistemas de ensino fundamental do mundo. Na escola em que estivemos todos os professores têm pelo menos meio dia (alguns têm um dia inteiro) para se atualizarem e aprimorarem continuamente.
Infraestrutura conta. Ter instalações adequadas, salas
bem arrumadas e limpas, banheiros em boas condições. Não se pode desprezar uma
boa biblioteca, instrumentos musicais em um estúdio como na foto, instalações
esportivas. A comida oferecida aos estudantes (todos ficam na escola em tempo
integral) precisa ser de boa qualidade.
Quando se tentou implantar progressão continuada por
nossas bandas esqueceram de preparar os professores para isso. O resultado foi
um fracasso a ponto de políticos terem usado como propaganda eleitoral a volta
à reprovação indiscriminada, como se assim a qualidade da educação aumentasse.
Não tem cota no ensino superior capaz de recuperar
completamente talentos perdidos por não terem tido uma formação básica adequada. Não dá para tentar fazer um jogador talentoso que ficou muitos anos
sem jogar e não foi treinado brilhar na seleção. Simplesmente não funciona. Não
é por acaso que a performance da educação brasileira no PISA, a copa do
mundo da educação básica, é tão ruim.
O Brasil está nas ruas buscando mudanças, mesmo sem saber muito claramente quais. Meu palpite por um país melhor: Educação básica pública de qualidade melhor que o sistema privado tem a oferecer. Essa é a situação do ensino superior. Porque não podemos fazer melhor no ensino básico?
Não podemos nos dar ao luxo de deixar escapar o Neymar da biologia, do meio ambiente, da física, da matemática, da engenharia, da filosofia, da arte, da literatura...
O Brasil está nas ruas buscando mudanças, mesmo sem saber muito claramente quais. Meu palpite por um país melhor: Educação básica pública de qualidade melhor que o sistema privado tem a oferecer. Essa é a situação do ensino superior. Porque não podemos fazer melhor no ensino básico?
Não podemos nos dar ao luxo de deixar escapar o Neymar da biologia, do meio ambiente, da física, da matemática, da engenharia, da filosofia, da arte, da literatura...
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