A profissionalização da função pública!
“A política talvez seja a única profissão em relação à qual se considera que nenhuma formação prévia é necessária”
Robert Louis Stevenson (1850-1894)
Autor do texto abaixo:Francisco Ferraz
A política é uma profissão porque o político é um profissional da vida
pública. Não é esta, entretanto, a concepção dominante sobre a atividade
política. Há muita dificuldade em encarar a política como uma carreira
profissional, tanto da parte da opinião pública em geral, como da parte
dos próprios políticos.
A origem do poder executivo é a monarquia, e
a do legislativo as Câmaras de nobres, e mais tarde de nobres e
burgueses. Estas origens marcaram a política como uma atividade
“desinteressada” , “amadorista” , um “incômodo” que os bens nascidos
tinham que suportar, em razão da responsabilidade/prerrogativa
historicamente atribuída a eles de governar o povo.
Por estas razões
era inconcebível a idéia de remunerar estas atividades. Na época,
somente recebiam remuneração fixa e regular, os empregados, os
subalternos. Um governante, um parlamentar (de extração nobre ou
burguesa) não poderia então ser submetido a este constrangimento que,
além de desnecessário era percebido como humilhante.
A primeira
manifestação verdadeiramente séria em prol de um tratamento profissional
da atividade política ocorreu na Inglaterra em Maio de 1838, no bojo do
Movimento Cartista em sua primeira fase. Este movimento operário e
popular recebeu o nome de Cartista porque recolheu 1.200.000 assinaturas
em favor de uma Petição à Nação, que ficou conhecida como a Carta do
Povo.
Nesta Carta que foi entregue ao Parlamento Inglês, e , por este rejeitada, os cartistas reivindicavam 5 pontos:
1.Sufrágio universal
2.Voto secreto
3.Parlamentos anuais
4.Justa e adequada remuneração aos parlamentares
5.Eliminação dos requisitos de propriedade para ser candidato
A formulação do argumento em favor da remuneração era o seguinte:
“Os trabalhos de um representante eleito que é zeloso no desempenho de seus deveres são numerosos e onerosos.
Não é nem justo, nem razoável, nem seguro que eles continuem a ser
prestados gratuitamente. Nós reivindicamos que, na futura eleição dos
membros desta honrada Casa seja destinado a cada um dos representantes
eleitos uma justa e adequada remuneração pelo período de tempo em que
ele desempenhe suas funções públicas, provida com fundos dos impostos
públicos” (Carta do Povo- Maio de 1838)
Embora derrotada pela
rejeição do Parlamento, os princípios da “Carta do Povo” que, na sua
maioria, também integraram o ideário da Revolução Americana e Francesa,
acabaram se impondo.
A “marca de nascimento” aristocrática das funções de governo e representação, entretanto, perdurou até os nossos dias.
É ela que impede que se encare a atividade política como uma atividade
profissional, como uma carreira pública, onde o “patrão” é o povo, que
seleciona o ingresso, fixa as promoções e remove das funções seus
escolhidos, pelo exercício livre e soberano de sua vontade no voto.
O
fato entretanto é que continua existindo uma contradição ainda não
resolvida, entre a visão aristocrática (residual mas ainda em
existência) e a realidade da atividade política, que opera em detrimento
da imagem que se faz da política e dos políticos.
Assumir a função
política como uma carreira profissional, com as mesmas exigências de
atualização e qualificação das outras, seguramente contribuirá para
elevar a qualidade dos nossos representantes eleitos, para recuperar a
desgastada imagem das instituições políticas, e finalmente, para
aperfeiçoar a democracia.
Nenhum comentário:
Postar um comentário