Entrevista de Claudio Haddad concedida a Érica Fraga da Folha de São Paulo em 17 de fevereiro de 2013
O que atraiu o sr. para a área de educação?
Sempre achei a educação muito importante. Eu sou
filho de professores. Estudei engenharia, mas tenho um doutorado em
economia e foi à economia que eu dediquei minhas atividades. Também sou
preocupado com o desenvolvimento econômico da sociedade.A educação é sem dúvida um dos principais fatores que aumentam a
produtividade e tornam os cidadãos mais eficazes e, consequentemente,
melhoram as instituições e uma série de outras coisas que também
resultam em um maior crescimento e desenvolvimento econômico.
Por que o sr. transformou o Insper em uma instituição sem fins lucrativos?
Achava importante deixar um legado para o país. Os dois modelos [com
fins lucrativos e sem fim lucrativos] são válidos. Mas há diferenças.
Nas instituições com fins lucrativos o foco tem de ser em algo que dê
rentabilidade, ao passo que o sem fins lucrativos busca rentabilidade
social.
Qual será o modelo dos cursos de engenharia do Insper?
A ideia é trazer a tecnologia para complementar toda nossa área de
gestão, economia, liderança, empreendedorismo. Achamos que essa
combinação é muito interessante. Acho que, para a cidade de São Paulo,
seria muito importante esse projeto. O nosso objetivo é formar
engenheiros empreendedores.
Como se diferenciar do curso tradicional de engenharia?
Primeiro, é um novo modelo de ensino de engenharia, que segue o modelo
de uma faculdade nova nos EUA, chamada Olin, em que o engenheiro se
envolve em projetos desde o início, tem curso de empreendedorismo.Esse é um modelo que falta no Brasil. O curso de engenharia hoje é
bastante teórico. Há um alto grau de abandono durante o curso e poucos
engenheiros trabalham com engenharia após se formar.
O mundo atual precisa de pessoas com cabeça multidisciplinar e aberta.
Hoje, um engenheiro não é só quem dá uma opinião técnica. Precisa
entender o que é importante para a sociedade.
A captação de recursos privados para viabilizar esses novos cursos já terminou?
Precisávamos de R$ 80 milhões e arrecadamos R$ 84,5 milhões. Agora,
vamos entrar em uma nova fase, em que podemos aceitar novas doações,
como de equipamentos para montagem de laboratório, e de recursos para o
fundo de bolsas.
Como funcionam as bolsas?
Hoje temos uns 110 alunos com bolsa, de cerca de 1.500 [na graduação].
As bolsas variam de 30% a 100%. A bolsa média é em torno de 65%. Hoje,
nenhum aluno deixa de estudar no Insper por problema financeiro.
O Insper poderia então oferecer mais bolsas?
Poderia. Eles só precisam passar no vestibular.
E por que o número de bolsistas não é maior, então?
Infelizmente, o modelo brasileiro é muito concentrador. As melhores
escolas são privadas e algumas cobram uma mensalidade que não é muito
distante da nossa.Por isso muitos alunos desconhecem a existência do programa de bolsas.
Acham que o Insper é escola só para ricos. Não é. E a gente nem quer que
seja. Justamente por isso temos esse programa, que já deu muitas
bolsas, inclusive de 100%.Estamos de portas abertas para qualquer aluno que mostre capacidade para entrar, independentemente de sua situação financeira.O problema é que você tem uma quantidade pequena. Se houvesse mais
alunos mais bem preparados, talvez houvesse um número maior de
candidatos. Também há alunos bons de outros Estados que, por causa do
vestibular, precisam vir até aqui. Isso torna o custo maior.
Existe alguma iniciativa para ampliar a fatia de bolsistas?
Estamos considerando reservar um percentual das vagas com base nas notas
no Enem. Mas é uma ideia em estudo. O problema é que o Enem, hoje, é
pouco prático para nós, porque seu resultado sai muito tarde.
É verdade que o sr. tem aversão a recursos públicos?
Não, isso é mito. Acho que a coisa funciona mais com o dinheiro privado.Se as pessoas estão botando dinheiro naquele projeto, é porque o projeto
é realmente importante. Não que o governo não faça coisas importantes.
Mas é diferente. Você no governo está gastando o dinheiro de outras
pessoas. Então, você tem considerações políticas que não levam em conta
apenas a eficiência daquele projeto.Agora, em certas áreas -como verbas para pesquisa-o dinheiro público é importante, e nós pegamos.
O sr. acha que a economia brasileira vai mal?
Acho que o diagnóstico está muito voltado para a demanda. Mas o problema maior do Brasil hoje é oferta.
Há uma série de gargalos que precisariam ser enfrentados. Estamos ainda
sendo beneficiados pelo bônus demográfico, mas isso vai acabar em umas
duas décadas. Então, mais do que nunca é importante continuarmos com
aquele processo de reformas.Isso, infelizmente, no segundo mandato do governo Lula, deu uma parada.
Agora, aparentemente, o governo está com boas intenções. Mas, na
prática, os resultados ainda não têm acontecido.E a ênfase grande em demanda se provou, até agora, errada e pode gerar
problemas para o futuro. A combinação de políticas macroeconômicas que
nos deu estabilidade é uma coisa muito importante, que deveria ser
mantida.
O chamado tripé macroeconômico está sendo abandonado?
Não acho que esteja sendo abandonado, mas as decisões do governo têm provocado muita incerteza no mercado e nos investidores.Está havendo uma flexibilização excessiva do tripé, principalmente na
área fiscal, em função dessas manobras contábeis para garantir um
superavit. Isso tem gerado muito ruído. Na prática, a inflação continua
muito controlada. As contas públicas ainda parecem em ordem. Mas é uma
tendência não muito encorajadora.A prioridade deveria ser melhorar a produtividade. As condições de
oferta são melhoradas com reformas e melhoras em infraestrutura,
ambiente de negócios favorável, menos incerteza regulatória. A educação
também é fundamental. Precisamos de gente capaz.
O que poderá ocorrer se essas reformas não forem feitas?
Acho que tem muita coisa boa andando no Brasil. A economia não vai
entrar em colapso. Mas acho que talvez a gente continue com crescimento
baixo, em torno de 2%, 3%. Para o Brasil, é muito baixo. Acho que o
Brasil pode ter perfeitamente uma taxa de crescimento em torno de 5%.
Quem é Claudio Luiz da Silva Haddad:
Presidente
do Insper Instituto de Ensino e Pesquisa, entidade sem fins lucrativos, e
do respectivo Conselho Deliberativo. Presidente do Conselho do Grupo
Ibmec S.A., entidade mantenedora das Faculdades Ibmec Rio de Janeiro,
Minas Gerais, Brasília e das Faculdades Veris. Membro do Conselho de
Administração da BM&F Bovespa, da Ideal Invest S.A., do Instituto
Unibanco e do Hospital Israelita Albert Einstein. Presidente do Conselho
do Brazil Harvard Office, do David Rockfeller Center for Latin American
Studies.
Sócio e Diretor Superintendente do Banco Garantia (83-98). Diretor do Banco Central do Brasil (80-82).
Professor de economia da Escola de Pós-Graduação de Economia, Fundação
Getúlio Vargas (1974-1984). Ph.D. em Economia, Universidade de Chicago
(74), M.A. Universidade de Chicago (72), OPM, Harvard Business School
(87), Engenheiro Mecânico e Industrial, Instituto Militar de Engenharia
(69). Quem é Irineu Gustavo Nogueira Gianesi :
Diretor de Novos Projetos Acadêmicos do Insper e
responsável pelo projeto e implantação de novos programas acadêmicos de
graduação e pós-graduação em tempo integral. Anteriormente e por oito
anos, foi responsável pelos programas de pós-graduação lato sensu do
Insper Instituto de Ensino e Pesquisa, incluindo os programas de MBA
Executivo, Certificates e LLM, coordenando também os processos de
certificação internacional da escola. Professor do Insper nos programas
de MBA Executivo, Graduação e Educação Executiva. Está cursando o
doutorado na Cranfield University, Reino Unido. Tem Mestrado em
Engenharia de Produção pela Escola Politécnica da USP e especialização
em Administração pela EAESP da Fundação Getúlio Vargas. É certificado em
“Production and Inventory Management” (CPIM) pela APICS. Conta com uma
experiência acadêmica de 24 anos em pesquisa e cursos de graduação,
tanto na Escola Politécnica da USP como no Insper Instituto de Ensino e
Pesquisa, e em cursos MBA Executivo em escolas de primeira linha de São
Paulo. É autor de artigos publicados em periódicos nacionais e
internacionais e três livros na área de Operations Management. Conta com
experiência de 28 anos como profissional e consultor de empresas como
Embraer, Natura, 3M, Unilever, Copersucar, Souza Cruz, Monsanto,
Cargill, Rhodia, Tubos Tigre, Accenture, PriceWaterhouse, Ceras Johnson,
Itautec-Philco, Hewlett Packard, Embraco, entre outras.
Olá Professor,
ResponderExcluirVenho acompanhado seu blog há muito tempo, ótimo trabalho, pois vira referência para os alunos, parabéns!
Gostaria de perguntar sua opinião sobre o artigo, o que pensa sobre essa formação acadêmica empreendedora? E de que forma isso se relacionaria com o curso de física?