Pesquisa Ibope sobre cotas em
universidades públicas
Quase dois em cada três brasileiros são a favor de cotas em
universidades públicas tanto para negros quanto para pobres como para
alunos da escola pública. Pesquisa nacional do Ibope feita a pedido do
Estado mostra que 62% da população apoia a implementação dos três tipos
de cotas - mecanismos que facilitam o acesso desses segmentos sociais às
vagas do ensino superior.A pesquisa Ibope foi feita entre os dias 17 e 21 de janeiro.
Foram realizadas 2.002 entrevistas em todas as regiões do Brasil. A
margem de erro máxima é de 2 pontos porcentuais.Veja no link abaixo o resultado da pesquisa:
http://estadaodados.com/html/cotas/
Programa de Inclusão com Mérito no Ensino Superior Público (Pimesp)
Em cerimônia realizada no Palácio dos Bandeirantes, no dia 20 de
dezembro do ano passado, o governador Geraldo Alckmin apresentou o
Programa de Inclusão com Mérito no Ensino Superior Público (Pimesp),
cuja proposta foi desenvolvida por uma comissão do Conselho de Reitores
das Universidades Estaduais Paulistas (Cruesp). O projeto tem como
objetivo estabelecer um regime de metas para o aumento das matrículas na
USP, Unesp e Unicamp de estudantes oriundos de escolas públicas e,
dentre eles, de negros, pardos e indígenas.
O reitor da USP, João Grandino Rodas, explicou que o Cruesp procurou
conceber um programa para “incluir mais”, tendo sempre o mérito como
premissa principal. “As universidades não devem ficar longe de seu tempo
e circunstâncias”, destacou. “As universidades já têm um programa de
inclusão com várias ações afirmativas, mas nós queremos um programa mais
abrangente e de Estado, ou seja, para todos”, explicou o governador
Alckmin. Para ser implementada, a proposta tem que passar por análise e
aprovação do Conselho Universitário de cada instituição.
De acordo com o projeto, ao menos 50% das matrículas em cada curso e
em cada turno deverão ser ocupadas por alunos que cursaram integralmente
o ensino médio em escolas públicas. Dentro dessa meta, o percentual de
negros, pardos e indígenas deverá atingir no mínimo 35% – valor
verificado para a população do Estado de São Paulo no Censo Demográfico
de 2010. As metas devem ser atingidas ao longo de três anos, a partir de
2014.
Instituto Comunitário de
Ensino Superior (Ices)
A criação do Instituto Comunitário de
Ensino Superior (Ices), em parceria com a Universidade Virtual do Estado
de São Paulo (Univesp), possibilitará a oferta de cursos superiores
sequenciais com duração de dois anos, que atenderão 40% do total das
metas étnico-sociais. A seleção será realizada por meio do desempenho
dos candidatos no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Serão duas mil
vagas para alunos que cursaram o ensino médio integralmente em escolas
públicas, sendo mil delas reservadas a estudantes negros, pardos e
indígenas.
Ao final do segundo ano, os concluintes terão ingresso garantido nas
universidades e faculdades estaduais, também com escolha da vaga por
desempenho. Os estudantes que concluírem o curso do Ices terão um
diploma de ensino superior, válido para atividades profissionais e
concursos públicos. Cada instituição de ensino superior público paulista
deverá criar um plano de recrutamento de estudantes capacitados e
participantes dos grupos sociais no regime de metas.
Também será criado, pelo governo estadual e pelas instituições de
ensino superior, um Fundo Especial para Apoio à Inclusão Social, com a
finalidade de financiar a permanência de estudantes no Pimesp,
incluindo-se o Ices e as universidades. A proposta prevê
bolsas-manutenção de meio salário-mínimo (R$ 339,00, pelo valor de
janeiro deste ano) aos alunos com renda familiar inferior a 1,5
salário-mínimo, com o propósito de suprir necessidades fundamentais de
transporte e alimentação. Os contemplados serão avaliados mensalmente
quanto à sua participação nas atividades escolares. O investimento
previsto para o primeiro ano do Pimesp é de R$ 27 milhões.
Fonte Jornal da USP 984
Entrevista do Prof.Carlos Vogt( um dos formuladores do Pimesp)
No lançamento do Pimesp, vocês evitaram o termo cota, que
normalmente causa polêmica. Mas o fato é que o projeto prevê reserva de
vagas nas universidades para alunos de escolas públicas e por critérios
raciais. A reação de quem é contra essa reserva não virá de qualquer
forma, mesmo sem o uso da palavra cota? E como vocês pretendem lidar com
isso?
Há duas coisas aqui. A primeira é que, embora isso não esteja na
palavra cota do ponto de vista semântico, ela hoje carrega também a
conotação de uma entrada automática nas instituições, por critérios de
raça, por exemplo. Esconde um pouco aquilo que sempre se buscou
preservar, que são os critérios de qualidade, de mérito, no processo de
inclusão. Acho que é nesse sentido que se procura aqui evitar o uso da
palavra cota. Mas também porque trabalhar com o conceito de metas, metas
socioétnicas que procuram responder a essa demanda que hoje está no
âmbito federal legitimada e legalizada. Procuramos associar à realização
dessas metas estratégias que preservassem os predicados de mérito que
as nossas instituições procuram defender. Por que nós nos preocupamos
com essa questão do aluno da escola pública? Você tem no Estado cerca de
440 mil alunos saindo do ensino médio todo ano. Destes, 360 mil saem
das escolas públicas e 80 mil das privadas. Nas universidades você tem
na média uma inversão. Acho que o Estado está tomando uma medida do
ponto de vista da formulação de uma política pública. E a percepção que a
população terá disso é muito importante.
Mas o senhor não acha que setores da sociedade vão reagir
quando ficar claro que em cursos muito concorridos, como Medicina,
candidatos hoje favoritos no vestibular, alunos de escolas privadas de
elite, só vão concorrer à metade das vagas?
Medicina sempre é um dos focos dessa discussão, assim como
Engenharia. Nas nossas análises dos números, você já tem coisas
interessantes hoje. Pegue por exemplo Engenharia Civil em São Carlos. O
delta da Engenharia lá para alunos de escolas públicas, o que falta para
atingir a meta, são 14 alunos. O delta para escola pública mais a cota
de pretos, pardos e indígenas (PPI) é de 8 alunos. Há casos em que esses
números são maiores, então são metas mais compridas para ser cumpridas.
Mas tem um mapa da situação de cada curso em cada universidade. Acho
que isso nos permitirá montar uma operação do programa bastante
interessante.
A explicação faz sentido, mas tem aquele aspecto: todo mundo
gosta de inclusão, até começar a mexer com o próprio quintal. Sem
enfatizar excessivamente esse aspecto, certamente é algo que vocês
discutiram na montagem do Pimesp.
Sim. O Pimesp implica não só uma mudança de atitude, mas uma mudança
de atitude em um contexto cultural novo. Porque você tem efetivamente
uma realidade social no País em transformação, com uma classe média nova
se constituindo. Há uma dinâmica social nova, porque uma das
características da classe média, de um modo geral, é o desejo de
mobilidade. E o sentido de mobilidade. Tem essa coisa, culturalmente
falando, de: "Eu faço trabalho braçal, mas quero meu filho na escola,
quero ele formado, com diploma". É o que caracteriza a história de
tantos de nós. Uma dinâmica em que na segunda ou na terceira geração já
mudou tudo. Um dos caminhos para essa mobilidade nós sabemos, que é
clássico, é exatamente o diploma de ensino superior. Como é que você
consegue oferecer formas de atendimento dessa demanda e ao mesmo tempo
mantém esses princípios de qualidade, de mérito etc. Acho que a proposta
que a gente vem discutindo procura exatamente essa conciliação. Por
outro lado, é claro que você tem razão. Onde houver uma resistência,
digamos, empedernida, ideológica, conservadora, o pessoal vai dizer:
"Bom, mas isso é reserva". É mesmo uma forma de garantir o acesso a essa
população. Mas que exige a satisfação das condições de qualidade que a
gente quer levar em conta.
Vocês chegaram a considerar a hipótese de atrelar a cota à
renda familiar? Acoplado a isso: se não tem limite de renda, vai fazer
sentido para muito mais gente de classe média migrar para a escola
pública. Pode haver uma explosão da demanda, por exemplo, nas escolas
técnicas, as Etecs?
Duvido um pouco, porque hoje os porcentuais que faltam, o delta para
você cumprir a meta dos 50% do Pimesp, não são nada absurdos. Hoje no
Centro Paula Souza (responsável pelas Etecs e pelas Fatecs, faculdades
de tecnologia) 75% dos alunos vêm da escola pública; na Unesp, é 39%; na
Unicamp, 31,6%; e na USP, 28%. Então, são metas realizáveis, não é algo
que vá provocar um choque.
Como será o trabalho da Univesp nesse programa?
Vamos trabalhar da mesma forma que já fazemos hoje nos cursos
semipresenciais que oferecemos em parceria com a USP e a Unesp. Eles têm
uma distribuição entre atividades presenciais e virtuais, utilizando os
ambientes de aprendizagem da internet e intensamente a nossa Univesp
TV. Para isso funcionar é preciso que tenhamos polos distribuídos pelas
cidades que funcionam como referências para regiões. E trabalhamos com a
ideia de que a distância para que os alunos participem das atividades
presenciais não seja superior a 100 quilômetros. Vamos organizar o curso
de maneira a utilizar toda a capilaridade que existe hoje já na
distribuição das Fatecs e das Etecs no Estado. Só de Fatecs tem 52. E a
capilaridade da Unesp, que está distribuída em 34 campi. Temos ainda as
instalações da Unicamp e da USP e, se necessário, dos municípios. A
organização dos polos varia de curso para curso, mas as turmas
idealmente têm 25 alunos, embora possam chegar a 30 e até mesmo a 50.
Eles precisam ter laboratórios de informática, com equipamentos, acesso à
internet, monitor de TV com antena parabólica por causa dos programas
da Univesp TV, e os monitores e tutores (nós chamamos de mediadores),
que fazem o acompanhamento das atividades desenvolvidas nos polos.
Estamos mexendo com a concepção do ensino. Estamos criando uma nova
modalidade de ensino superior e adotando o uso intensivo das
tecnologias, algo inevitável. Nossos conteúdos lá da Univesp TV já foram
vistos perto de 5 milhões de vezes no YouTube.
Vocês vão produzir mais com foco voltado para o Ices? Faz
sentido colocar conteúdos de revisão do ensino médio ordenadamente na
internet, divulgando para estudantes que ainda estão no ensino médio que
querem se aprimorar?
A ideia é essa, tornar todo esse material disponível. Claro que, para
cumprir formalmente o curso no Ices, o aluno precisa estar selecionado.
Mas o acesso ao material será público.
É possível imaginar que um estudante que já viu um curso, de
Cálculo, por exemplo, quando estava no ensino médio possa, depois de
aceito no Ices, chegar e dizer: "Olha, este curso aqui eu já assisti.
Podemos passar direto para a etapa da avaliação?"
É possível. Ele pode apresentar, de alguma forma, um atestado de
conhecimento, por prova ou por desempenho, seja como for, aí é uma
questão de pensar. É claro que existe essa possibilidade, sem dúvida.
Fonte: Entrevista concedida a Sergio Pompeu, do jornal O Estado de S.
Paulo, publicada em 23/12/2012
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