domingo, 17 de fevereiro de 2013

Cotas em universidades públicas:Pesquisa Ibope,Pimesp e Ices!

Pesquisa Ibope sobre cotas em universidades públicas 

Quase dois em cada três brasileiros são a favor de cotas em universidades públicas tanto para negros quanto para pobres como para alunos da escola pública. Pesquisa nacional do Ibope feita a pedido do Estado mostra que 62% da população apoia a implementação dos três tipos de cotas - mecanismos que facilitam o acesso desses segmentos sociais às vagas do ensino superior.A pesquisa Ibope foi feita entre os dias 17 e 21 de janeiro. Foram realizadas 2.002 entrevistas em todas as regiões do Brasil. A margem de erro máxima é de 2 pontos porcentuais.Veja no link abaixo o resultado da pesquisa:

http://estadaodados.com/html/cotas/


Programa de Inclusão com Mérito no Ensino Superior Público (Pimesp)

Em cerimônia realizada no Palácio dos Bandeirantes, no dia 20 de dezembro do ano passado, o governador Geraldo Alckmin apresentou o Programa de Inclusão com Mérito no Ensino Superior Público (Pimesp), cuja proposta foi desenvolvida por uma comissão do Conselho de Reitores das Universidades Estaduais Paulistas (Cruesp). O projeto tem como objetivo estabelecer um regime de metas para o aumento das matrículas na USP, Unesp e Unicamp de estudantes oriundos de escolas públicas e, dentre eles, de negros, pardos e indígenas.

O reitor da USP, João Grandino Rodas, explicou que o Cruesp procurou conceber um programa para “incluir mais”, tendo sempre o mérito como premissa principal. “As universidades não devem ficar longe de seu tempo e circunstâncias”, destacou. “As universidades já têm um programa de inclusão com várias ações afirmativas, mas nós queremos um programa mais abrangente e de Estado, ou seja, para todos”, explicou o governador Alckmin. Para ser implementada, a proposta tem que passar por análise e aprovação do Conselho Universitário de cada instituição.

De acordo com o projeto, ao menos 50% das matrículas em cada curso e em cada turno deverão ser ocupadas por alunos que cursaram integralmente o ensino médio em escolas públicas. Dentro dessa meta, o percentual de negros, pardos e indígenas deverá atingir no mínimo 35% – valor verificado para a população do Estado de São Paulo no Censo Demográfico de 2010. As metas devem ser atingidas ao longo de três anos, a partir de 2014.

Instituto Comunitário de Ensino Superior (Ices)

 A criação do Instituto Comunitário de Ensino Superior (Ices), em parceria com a Universidade Virtual do Estado de São Paulo (Univesp), possibilitará a oferta de cursos superiores sequenciais com duração de dois anos, que atenderão 40% do total das metas étnico-sociais. A seleção será realizada por meio do desempenho dos candidatos no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Serão duas mil vagas para alunos que cursaram o ensino médio integralmente em escolas públicas, sendo mil delas reservadas a estudantes negros, pardos e indígenas.

Ao final do segundo ano, os concluintes terão ingresso garantido nas universidades e faculdades estaduais, também com escolha da vaga por desempenho. Os estudantes que concluírem o curso do Ices terão um diploma de ensino superior, válido para atividades profissionais e concursos públicos. Cada instituição de ensino superior público paulista deverá criar um plano de recrutamento de estudantes capacitados e participantes dos grupos sociais no regime de metas.

Também será criado, pelo governo estadual e pelas instituições de ensino superior, um Fundo Especial para Apoio à Inclusão Social, com a finalidade de financiar a permanência de estudantes no Pimesp, incluindo-se o Ices e as universidades. A proposta prevê bolsas-manutenção de meio salário-mínimo (R$ 339,00, pelo valor de janeiro deste ano) aos alunos com renda familiar inferior a 1,5 salário-mínimo, com o propósito de suprir necessidades fundamentais de transporte e alimentação. Os contemplados serão avaliados mensalmente quanto à sua participação nas atividades escolares. O investimento previsto para o primeiro ano do Pimesp é de R$ 27 milhões.

Fonte Jornal da USP 984


Entrevista do Prof.Carlos Vogt( um dos formuladores do Pimesp)
No lançamento do Pimesp, vocês evitaram o termo cota, que normalmente causa polêmica. Mas o fato é que o projeto prevê reserva de vagas nas universidades para alunos de escolas públicas e por critérios raciais. A reação de quem é contra essa reserva não virá de qualquer forma, mesmo sem o uso da palavra cota? E como vocês pretendem lidar com isso?
Há duas coisas aqui. A primeira é que, embora isso não esteja na palavra cota do ponto de vista semântico, ela hoje carrega também a conotação de uma entrada automática nas instituições, por critérios de raça, por exemplo. Esconde um pouco aquilo que sempre se buscou preservar, que são os critérios de qualidade, de mérito, no processo de inclusão. Acho que é nesse sentido que se procura aqui evitar o uso da palavra cota. Mas também porque trabalhar com o conceito de metas, metas socioétnicas que procuram responder a essa demanda que hoje está no âmbito federal legitimada e legalizada. Procuramos associar à realização dessas metas estratégias que preservassem os predicados de mérito que as nossas instituições procuram defender. Por que nós nos preocupamos com essa questão do aluno da escola pública? Você tem no Estado cerca de 440 mil alunos saindo do ensino médio todo ano. Destes, 360 mil saem das escolas públicas e 80 mil das privadas. Nas universidades você tem na média uma inversão. Acho que o Estado está tomando uma medida do ponto de vista da formulação de uma política pública. E a percepção que a população terá disso é muito importante.

Mas o senhor não acha que setores da sociedade vão reagir quando ficar claro que em cursos muito concorridos, como Medicina, candidatos hoje favoritos no vestibular, alunos de escolas privadas de elite, só vão concorrer à metade das vagas?
Medicina sempre é um dos focos dessa discussão, assim como Engenharia. Nas nossas análises dos números, você já tem coisas interessantes hoje. Pegue por exemplo Engenharia Civil em São Carlos. O delta da Engenharia lá para alunos de escolas públicas, o que falta para atingir a meta, são 14 alunos. O delta para escola pública mais a cota de pretos, pardos e indígenas (PPI) é de 8 alunos. Há casos em que esses números são maiores, então são metas mais compridas para ser cumpridas. Mas tem um mapa da situação de cada curso em cada universidade. Acho que isso nos permitirá montar uma operação do programa bastante interessante.

A explicação faz sentido, mas tem aquele aspecto: todo mundo gosta de inclusão, até começar a mexer com o próprio quintal. Sem enfatizar excessivamente esse aspecto, certamente é algo que vocês discutiram na montagem do Pimesp.
Sim. O Pimesp implica não só uma mudança de atitude, mas uma mudança de atitude em um contexto cultural novo. Porque você tem efetivamente uma realidade social no País em transformação, com uma classe média nova se constituindo. Há uma dinâmica social nova, porque uma das características da classe média, de um modo geral, é o desejo de mobilidade. E o sentido de mobilidade. Tem essa coisa, culturalmente falando, de: "Eu faço trabalho braçal, mas quero meu filho na escola, quero ele formado, com diploma". É o que caracteriza a história de tantos de nós. Uma dinâmica em que na segunda ou na terceira geração já mudou tudo. Um dos caminhos para essa mobilidade nós sabemos, que é clássico, é exatamente o diploma de ensino superior. Como é que você consegue oferecer formas de atendimento dessa demanda e ao mesmo tempo mantém esses princípios de qualidade, de mérito etc. Acho que a proposta que a gente vem discutindo procura exatamente essa conciliação. Por outro lado, é claro que você tem razão. Onde houver uma resistência, digamos, empedernida, ideológica, conservadora, o pessoal vai dizer: "Bom, mas isso é reserva". É mesmo uma forma de garantir o acesso a essa população. Mas que exige a satisfação das condições de qualidade que a gente quer levar em conta.

Vocês chegaram a considerar a hipótese de atrelar a cota à renda familiar? Acoplado a isso: se não tem limite de renda, vai fazer sentido para muito mais gente de classe média migrar para a escola pública. Pode haver uma explosão da demanda, por exemplo, nas escolas técnicas, as Etecs?
Duvido um pouco, porque hoje os porcentuais que faltam, o delta para você cumprir a meta dos 50% do Pimesp, não são nada absurdos. Hoje no Centro Paula Souza (responsável pelas Etecs e pelas Fatecs, faculdades de tecnologia) 75% dos alunos vêm da escola pública; na Unesp, é 39%; na Unicamp, 31,6%; e na USP, 28%. Então, são metas realizáveis, não é algo que vá provocar um choque.

Como será o trabalho da Univesp nesse programa?
Vamos trabalhar da mesma forma que já fazemos hoje nos cursos semipresenciais que oferecemos em parceria com a USP e a Unesp. Eles têm uma distribuição entre atividades presenciais e virtuais, utilizando os ambientes de aprendizagem da internet e intensamente a nossa Univesp TV. Para isso funcionar é preciso que tenhamos polos distribuídos pelas cidades que funcionam como referências para regiões. E trabalhamos com a ideia de que a distância para que os alunos participem das atividades presenciais não seja superior a 100 quilômetros. Vamos organizar o curso de maneira a utilizar toda a capilaridade que existe hoje já na distribuição das Fatecs e das Etecs no Estado. Só de Fatecs tem 52. E a capilaridade da Unesp, que está distribuída em 34 campi. Temos ainda as instalações da Unicamp e da USP e, se necessário, dos municípios. A organização dos polos varia de curso para curso, mas as turmas idealmente têm 25 alunos, embora possam chegar a 30 e até mesmo a 50. Eles precisam ter laboratórios de informática, com equipamentos, acesso à internet, monitor de TV com antena parabólica por causa dos programas da Univesp TV, e os monitores e tutores (nós chamamos de mediadores), que fazem o acompanhamento das atividades desenvolvidas nos polos. Estamos mexendo com a concepção do ensino. Estamos criando uma nova modalidade de ensino superior e adotando o uso intensivo das tecnologias, algo inevitável. Nossos conteúdos lá da Univesp TV já foram vistos perto de 5 milhões de vezes no YouTube.

Vocês vão produzir mais com foco voltado para o Ices? Faz sentido colocar conteúdos de revisão do ensino médio ordenadamente na internet, divulgando para estudantes que ainda estão no ensino médio que querem se aprimorar?
A ideia é essa, tornar todo esse material disponível. Claro que, para cumprir formalmente o curso no Ices, o aluno precisa estar selecionado. Mas o acesso ao material será público.

É possível imaginar que um estudante que já viu um curso, de Cálculo, por exemplo, quando estava no ensino médio possa, depois de aceito no Ices, chegar e dizer: "Olha, este curso aqui eu já assisti. Podemos passar direto para a etapa da avaliação?"
É possível. Ele pode apresentar, de alguma forma, um atestado de conhecimento, por prova ou por desempenho, seja como for, aí é uma questão de pensar. É claro que existe essa possibilidade, sem dúvida.

Fonte:  Entrevista  concedida a Sergio Pompeu, do jornal O Estado de S. Paulo, publicada em 23/12/2012

Nenhum comentário:

Postar um comentário