sábado, 22 de junho de 2013

22 de junho de 1633:Galileu Galilei é julgado e condenado pelo Tribunal da Inquisição!




DEUS FACE À CIÊNCIA
Claude Allègre


A 22 de Junho de 1633, Galileu Galilei, de 69 anos de idade, vestido com o hábito branco dos penitentes, entra na grande sala do Convento de Minerva, em Roma. Vai comparecer, a pedido expresso e urgente do papa Urbano VIII, diante do tribunal inquisitorial da Congregação do Santo Ofício, composto por dez cardeais designados para o efeito.

Comparecer é uma força de expressão, em termos da língua atual, já que ele terá de se contentar com escutar a sentença, sem debate preliminar. Durante seis meses é mantido «prisioneiro» em Roma. Enquanto lhe sugerem que se retrate, os subalternos da Inquisição recusam-lhe ao mesmo tempo que veja o papa, de quem tinha sido amigo, ou mesmo qualquer cardeal. Privam-no do contato com os colegas mais queridos. Zanga-se, respinga, exige um debate contraditório com os seus acusadores, mas em vão. Permanecerá na ignorância do que se trama contra ele e que decidirá da sua sorte. Não verá os seus julgadores antes de 22 de Junho, não terá um verdadeiro processo e, portanto, não terá ocasião de exibir essa maravilhosa inteligência que tinha seduzido, subjugado mesmo, tantos eclesiásticos havia mais de trinta anos.
Ei-lo agora diante do tribunal da Inquisição. Ajoelhado, escuta, tenso, pálido, silencioso, a espantosa declaração, aquela declaração supostamente escrita por ele, mas de que, na realidade, toma conhecimento pela primeira vez enquanto é lida por outro:


Eu, Galileu Galilei, filho do falecido Vincenzo Galilei, de Florença, de 69 anos de idade, comparecendo em pessoa perante este tribunal, ajoelhado diante de vós, mui eminentes e reverendíssimos cardeais, grandes inquisidores de toda a cristandade contra a perversidade herética, os olhos postos sobre os mui Santos Evangelhos, que toco com as minhas próprias mãos:
Juro que sempre acreditei, que acredito neste momento e que, com a graça de Deus, continuarei a acreditar no futuro em tudo quanto a Santa Igreja católica, apostólica e romana tem por verdadeiro, prega e ensina.

Mas, em virtude de o Santo Ofício me ter notificado de que não acredita na falsa opinião de que o Sol está no centro do mundo e é imóvel e de que a Terra não é o centro do mundo e se move e de que não mantém, nem defende, nem ensina, quer oralmente, quer por escrito, esta falsa doutrina; em virtude de ter sido notificado de que a dita doutrina era contrária às Sagradas Escrituras; em virtude de ter escrito e ter mandado imprimir um livro no qual exponho esta doutrina condenada, apresentando em seu favor uma argumentação muito convincente, sem apontar qualquer solução definitiva; tornei-me por este facto fortemente suspeito de heresia, isto é, de ter mantido e acreditado que o Sol está no centro do mundo e é imóvel e que a Terra não está no centro e se move.

Por este facto, e querendo apagar do espírito de Vossas Eminências e de qualquer cristão fiel esta suspeita veemente a justo título concebida contra mim, abjuro e maldigo de coração sincero e com fé não simulada os erros e as heresias supracitados e, em geral, qualquer outro erro, heresia e empreendimento contrários à Santa Igreja; juro, no futuro, jamais dizer ou afirmar de viva voz ou por escrito seja o que for que permita haver de mim semelhante suspeita e, se por acaso vier a encontrar um herético ou tido como tal, denunciá-lo-ei a este Santo Ofício, ao inquisidor ou ao prelado da diocese onde resido.

Juro também e prometo cumprir e observar estritamente as penitências que me foram ou vierem a ser-me impostas por este Santo Ofício; e, se desobedecer, que o não queira Deus, a uma das minhas promessas e juras, submeto-me a todas as penas e castigos que são impostos e promulgados pelos sagrados cânones e pelas outras constituições gerais e particulares contra semelhantes delinquentes. Com a ajuda de Deus e dos Santos Evangelhos, que toco com as minhas mãos.

Eu, Galileu Galilei, abaixo assinado, reneguei, jurei, prometi e comprometi-me como acima ficou dito; em fé do que, para atestar a verdade com a minha própria mão, assinei a presente cédula da minha abjuração e recitei-a, palavra por palavra, em Roma, no Convento de Minerva, a 22 de Junho de 1633

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